15 outubro 2016

OS PRIVILÉGIOS DO PROFESSOR



        Dia desses li na internet que o governo federal comentou que os professores tem muitos privilégios e que isso seria um dos fatores que agrava a crise econômica do país. Não cheguei a perder meu tempo buscando a veracidade da declaração, mas supondo que seja verdadeira, concordo “em parte”.
        Sim, os professores tem privilégios que nenhuma outra profissão tem. Eu disse “profissão”. Não nascemos professores. Nos “formamos” professores com muito estudo e preparação diários. Temos privilégios, sim senhor. O maior deles é o “poder” que temos de construir pessoas através do conhecimento e da esperança que plantamos nos corações. Temos o privilégio de ter uma plateia todos os dias que nos recebe com sorrisos, beijos, abraços. Recebemos bilhetinhos amorosos, com desenhos de corações, com dizeres do tipo: te adoro, você é linda.  Temos o privilégio de sermos recebidos na porta do carro quando chegamos à escola e de termos nossa bolsa carregada até a sala de aula. Somos os confidentes. Ouvimos segredos, piadas, descobrimos talentos que ninguém ainda viu: futuros poetas, médicos, jogadores de futebol, artesãos, cientistas, engenheiros e por aí vai... Somos contaminados com a alegria e energia das crianças e jovens que enche a escola e a nossa alma, nos fazendo também jovens de espírito. Somos cumprimentados na rua, na loja, na Igreja, na padaria, por onde passarmos,  simplesmente com um carinhoso “Oi, profe”. Uma vez profe, somos profe para toda a vida, jamais esquecidos. Temos o privilégio, senhores governantes, de educar o olhar e ensinar a ver a verdade das coisas. De formar pensadores, livres e protagonistas.
    Mas também temos junto com os ônus, os bônus. Não basta um diploma da faculdade. Precisamos constantemente de atualização. Precisamos estudar, pesquisar novas ferramentas e metodologias. Preparar as aulas muitas vezes de madrugada, caindo de cansaço, sacrificar finais de semana, abrir mão de festas ou de ver um filme, comendo pipoca. Muitas vezes temos que deixar de dar atenção maior a nossos próprios filhos porque o tempo é sempre curto para tantas atividades. Sentimos dores terríveis nos pés, na cabeça, desenvolvemos tendinites. Lidamos com situações que muitas vezes nos levam ao stress e à depressão. E quando precisamos ir ao médico não é fácil achar quem nos substitua. Precisamos fazer malabarismos com o salário (que nos últimos tempos vem parcelado). Professor precisa estar bem vestido, bem informado, viajar e adquirir cultura constantemente. Isso custa. Professor precisa de férias, sim. Descansar a cabeça e o corpo para retomar com muita energia um novo ano escolar. Será que tem alguém que acha que é demais as férias do professor? Será que também acham que é demais o trabalho que levamos para fazer em casa, além das horas remuneradas?

    Somos professores. Formamos todas as profissões. Ensinamos a pensar e lutamos para ensinar pessoas  a transformar, principalmente uma sociedade excludente, onde apenas uma minoria desfruta de “certos privilégios” e teme perdê-los. 

2 comentários:

  1. Marli, me assusto quando algumas pessoas que não estão em sal de aula se metem a julgar o que acontece ali. Não é estranho mesmo um professor que vai trabalhar na Diretoria de Ensino, mudar sua visão sobre os docentes por causa do cargo que agora ocupa. Quem está em sala de aula sabe bem a dor e a delícia de ser o que é.

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    1. Exato. É preciso viver a realidade do chão da sala de aula para poder ter a visão certa do processo todo. E a direção precisa compreender, apoiar, orientar e nunca perder de vista essa realidade. Abraço!

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