Dia desses li na internet que o governo
federal comentou que os professores tem muitos privilégios e que isso seria um
dos fatores que agrava a crise econômica do país. Não cheguei a perder meu
tempo buscando a veracidade da declaração, mas supondo que seja verdadeira,
concordo “em parte”.
Sim, os professores tem privilégios
que nenhuma outra profissão tem. Eu disse “profissão”. Não nascemos
professores. Nos “formamos” professores com muito estudo e preparação diários.
Temos privilégios, sim senhor. O maior deles é o “poder” que temos de construir
pessoas através do conhecimento e da esperança que plantamos nos corações.
Temos o privilégio de ter uma plateia todos os dias que nos recebe com
sorrisos, beijos, abraços. Recebemos bilhetinhos amorosos, com desenhos de
corações, com dizeres do tipo: te adoro, você é linda. Temos o privilégio de sermos recebidos na
porta do carro quando chegamos à escola e de termos nossa bolsa carregada até a
sala de aula. Somos os confidentes. Ouvimos segredos, piadas, descobrimos
talentos que ninguém ainda viu: futuros poetas, médicos, jogadores de futebol,
artesãos, cientistas, engenheiros e por aí vai... Somos contaminados com a
alegria e energia das crianças e jovens que enche a escola e a nossa alma, nos
fazendo também jovens de espírito. Somos cumprimentados na rua, na loja, na
Igreja, na padaria, por onde passarmos, simplesmente com um carinhoso “Oi, profe”. Uma
vez profe, somos profe para toda a vida, jamais esquecidos. Temos o privilégio,
senhores governantes, de educar o olhar e ensinar a ver a verdade das coisas.
De formar pensadores, livres e protagonistas.
Mas também temos junto com os ônus,
os bônus. Não basta um diploma da faculdade. Precisamos constantemente de
atualização. Precisamos estudar, pesquisar novas ferramentas e metodologias. Preparar
as aulas muitas vezes de madrugada, caindo de cansaço, sacrificar finais de
semana, abrir mão de festas ou de ver um filme, comendo pipoca. Muitas vezes
temos que deixar de dar atenção maior a nossos próprios filhos porque o tempo é
sempre curto para tantas atividades. Sentimos dores terríveis nos pés, na cabeça,
desenvolvemos tendinites. Lidamos com situações que muitas vezes nos levam ao
stress e à depressão. E quando precisamos ir ao médico não é fácil achar quem
nos substitua. Precisamos fazer malabarismos com o salário (que nos últimos
tempos vem parcelado). Professor precisa estar bem vestido, bem informado,
viajar e adquirir cultura constantemente. Isso custa. Professor precisa de
férias, sim. Descansar a cabeça e o corpo para retomar com muita energia um
novo ano escolar. Será que tem alguém que acha que é demais as férias do
professor? Será que também acham que é demais o trabalho que levamos para fazer
em casa, além das horas remuneradas?
Somos professores. Formamos todas
as profissões. Ensinamos a pensar e lutamos para ensinar pessoas a transformar, principalmente uma sociedade
excludente, onde apenas uma minoria desfruta de “certos privilégios” e teme perdê-los.
Marli, me assusto quando algumas pessoas que não estão em sal de aula se metem a julgar o que acontece ali. Não é estranho mesmo um professor que vai trabalhar na Diretoria de Ensino, mudar sua visão sobre os docentes por causa do cargo que agora ocupa. Quem está em sala de aula sabe bem a dor e a delícia de ser o que é.
ResponderExcluirExato. É preciso viver a realidade do chão da sala de aula para poder ter a visão certa do processo todo. E a direção precisa compreender, apoiar, orientar e nunca perder de vista essa realidade. Abraço!
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